Ana Luiza Braga de Macedo Lombardi
Beatriz de Lucena Ribeiro e Silva Marques Maria Gabrieli Silva Costa Maria Luiza Cortês Bonifácio Pereira
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
A Neurorretinite Unilateral Subaguda Difusa (DUSN) é uma inflamação retiniana causada por nematódeos sub-retinianos móveis, podendo evoluir para perda visual irreversível. É mais prevalente em regiões tropicais, como o interior do Rio Grande do Norte. O diagnóstico é predominantemente clínico, com o verme sendo identificado em apenas uma fração dos casos. Este relato descreve um caso pediátrico de DUSN sem visualização do parasito, tratado clinicamente com desfecho favorável.
RELATO DO CASO MLPS, 4 anos, sexo masculino, natural e residente de Canguaretama/RN, procurou oftalmologista por perda visual associada à hiperemia no olho direito (OD) iniciada há três dias. Sem antecedentes mórbidos prévios. Ao exame, apresentava acuidade visual sem correção (AVSC) de 20/200 em OD, com fundoscopia revelando lesões inflamatórias compatíveis com uveíte, além de múltiplas lesões retinianas atróficas. Exames laboratoriais mostraram eosinofilia (778/mm3) e aumento nos níveis de IgE (608,0kU/L), com sorologias negativas para toxoplasmose, sífilis e HIV, assim como marcadores lúpicos. O contexto epidemiológico e os achados oftalmológicos típicos levaram à hipótese da DUSN e motivaram o início do tratamento, mesmo sem a visualização do verme. Iniciou-se Albendazol 400 mg/dia por 30 dias, conforme esquema alternativo preconizado para casos sem identificação direta do parasito. Após 30 dias do término da terapia,observou-se regressão do processo inflamatório, cicatrização das lesões retinianas, melhora na vascularização e aspecto do nervo óptico, além de ganho funcional da acuidade visual (AVSC 20/100).
Este relato demonstra o sucesso terapêutico em um caso de DUSN diagnosticado clinicamente, com melhora funcional e ausência de progressão para esclerose de vasos e cegueira. Inicialmente, foram descartados diagnósticos diferenciais de etiologia infecciosa, inflamatória, autoimune e idiopática - dentre eles, a similaridade das lesões levou à hipótese inicial de Coriorretinopatia Birdshot (BCR), descartada diante da epidemiologia desfavorável. Apesar da não visualização do verme – fator que poderia dificultar a confirmação diagnóstica – a combinação dos achados clínicos, laboratoriais e epidemiológicos sustentou a decisão terapêutica. A eosinofilia e o aumento de IgE reforçaram a suspeita de parasitose. O uso de Albendazol em dose elevada por tempo prolongado tem sido recomendado como abordagem alternativa em casos de DUSN sem identificação do parasito. O desfecho positivo, com estabilização do quadro inflamatório e ganho visual parcial, reforça a efetividade desse esquema em casos selecionados, especialmente quando iniciado precocemente.
Este caso reforça a importância do conhecimento técnico da DUSN por pediatras e oftalmologistas, sobretudo em regiões endêmicas. O acompanhamento conjunto entre as especialidades permite uma visão integral do paciente, levando à melhor chance de reabilitação clínica.
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